Eles estão por toda parte.

Narcisistas intolerantes e exigentes, para quem nada parece bastar: a remuneração é pouca, a jornada é cansativa, o serviço é maçante, o café está frio. Excessivamente críticos e falantes, sempre a vasculhar o ambiente em busca de colegas e circunstâncias a quem possam culpar por seu desalento, como que justificando preventivamente um futuro tropeço.

Alguns são excelentes no que fazem, é verdade, mas a maioria superestima em muito suas próprias habilidades. Em crônica dependência de atenção, essas pessoas não trabalham bem em equipe. Seu viés é competitivo e não colaborativo. E ainda que as evidências saltem aos olhos, muito dificilmente admitirão um erro. Até onde podem ver a culpa é sempre minha ou sua. E eles fazem questão de esfregar isso em nossa cara.

Esses colegas respondem às muitas bênçãos da vida na base do “eu mereço”. A gratidão lhes passa ao largo, não importa quão grande o quinhão que lhes caiba. É como se o mundo tivesse a obrigação de os manter.

Tais atitudes — exageradas aqui de modo retórico — geralmente se fundam em uma insegurança tão extensa quanto inconsciente. São artifícios de um ego que se percebe medíocre e ameaçado e que se empenha em erigir barreiras que o separem de tudo que seja ordinário. Brotam de um eu fragmentado, para o qual os fios das meadas do ter e do ser se fundiram em um único novelo.

Em nosso íntimo, todos nos enxergamos sãos e sensatos. Torcemos pelo mocinho dos filmes e somos unânimes em condenar atos de flagrante injustiça. Ninguém se admite cruel, mesquinho, frio ou ingrato. Ninguém vai se achando por se achar. Ah, eu não sou assim! Mas basta um olhar minimamente honesto para reconhecer que todos exibimos esses comportamentos, ocasionalmente, se a provocação atinge nossos recessos mais fundos. Mas nem sempre somos capazes dessa honestidade.

Daí ser mais fácil enxergar e condenar o erro nos outros e não em nós. Daí a crítica constante, os dedos apontados. É o fenômeno da projeção, no qual nossa mente inconsciente nos apresenta uma imagem em espelho contra a qual é fácil distilar nossa raiva, enquanto nos iludimos imaginando que o espelho seja capaz de refletir uma imagem que não seja a nossa. É um mecanismo de defesa.

A verdade é que o comportamento dos outros sempre mudará na exata medida daquilo que recebem de nós. E o problema é que continuamos tomando a distorção por realidade, sem nunca inquirir quanto à real fonte da luz.

Todos nós conhecemos narcisos assim, cheios de si, para quem nada ou ninguém é bom o bastante. Mas pessoas que vivem se achando não se percebem más. Ao contrário, continuam se achando muito simpáticas. Exatamente como nós.

E aí fica a dica: se o seu mundo está cheio de divas assim arrogantes, talvez seja o caso de se perguntar. Será que o narcisista não é você?

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Para você, o que é um narcisista?

Você conhece alguém que está sempre se achando?

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2 Responses

  1. Disse tudo: “A verdade é que o comportamento dos outros sempre mudará na exata medida daquilo que recebem de nós. E o problema é que continuamos tomando a distorção por realidade, sem nunca inquirir quanto à real fonte da luz.”

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